quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Coitado do cão do Miguel!

O Miguel era um pedinte no lugar de Chacim, onde eu nasci, mais o Paulo, os meus pais e todos os meus tios, tias, avôs e avós (só o Manel é que se armou em citadinho e veio nascer ao Porto). O cão do Miguel, fiel amigo, acompanhava o Miguel na sua pedinchisse, com certeza na esperança que lhe enchessem a barriguinha, como o faziam muitas vezes ao Miguel. Só que o Miguel, não tão fiel amigo quanto o cão, açambarcava tudo e deixava o pobre animal à míngua. Daí que quando alguém ficava, como se costuma dizer, "a ver navios", as pessoas do lugar de Chacim costumavam dizer "vais lerpar como o cão do Miguel"! Eu nunca conheci o cão do Miguel (até porque nunca conheci o Miguel), mas muitas vezes ao longo da minha vida lerpei como ele e, por isso mesmo, posso dizer que, se há coisa de que o Miguel não se pode orgulhar, é de fazer penar o animal que de nome só tem o do dono!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ainda bem que nos deu para a cabeça…

Sempre que um de nós lá em casa dizia ou fazia um disparate, a resposta do meu pai era quase sempre a mesma: ainda bem que te deu para a cabeça porque se te dava para uma perna, mancava-te.
Agora que penso nisso, e olhando para a nossa sociedade, acho que é melhor que seja a nossa cabecita que sofra e não os nossos membros inferiores. Já imaginaram como seria o Parlamento se os nossos políticos lá aparecessem de canadianas? E os nossos estádios estariam ainda mais vazios se os nossos craques jogassem de cadeira de rodas. E apesar de eu não gostar do Cláudio Ramos, não gostaria de o ver entrevadinho numa cama do hospital…

O alvará e o picão...

Nunca quis ser médica, advogada ou engenheira.
Talvez por nunca ninguém me ter dito que devia ser médica, advogada ou engenheira.
Acabei cientista de computadores, o Paulo botânico e o Manel pintor...
Quando éramos pequenos o meu pai só dizia uma coisa: estudem. E depois profetizava que eu iria acabar a tirar o alvará de esfregar escadas e o Paulo a calceteiro marítimo (a assentar paralelo em alto mar). Quando ao Manel esse tinha ideias muito próprias do que queria ser quando crescesse! Acho que tais perspectivas nos assustaram. Ao Paulo talvez o facto de não saber manusear o picão e de que o problema de "junta de calçada muito aberta" ou de "pedras altas" não deve ser nada fácil de resolver em alto mar, com a ondulação e tal... Eu por mim, não sabia o que era um alvará, nem quem o tinha. Além de que sempre me tinham dito que tirar é feio!

Mas a coisa correu pelo melhor... Lá conseguimos escolher outras ocupações, claro que bem menos interessantes! E nenhum de nós é médico, advogado ou engenheiro!

O meu fígado não se desvia...

O meu fígado não se desvia. O bandido é mais estático que a Alberta Marques Fernandes a ler o telejornal. Eu bem o tentei ensinar, mas não há maneira de ele aprender. Sempre que eu tomo um copito a mais ele teima em permanecer no local, tal como um comandante que se aguenta na proa enquanto o navio se afunda, impassível perante a possibilidade de ficar encharcado. Que maravilhoso seria se o meu fígado se pudesse desviar dos canecos que eu emborco como o Super-homem se desvia das balas. Mas ao contrário do meu pai que já domina essa técnica de desviar o fígado eu ainda não cheguei lá. Ou será que o meu fígado até me ouve mas não quer obedecer? Será que está farto do trabalho extra que eu lhe imponho a horas completamente despropositadas?
Aposto que já foi ao sindicato das vísceras queixar-se das condições de trabalho. O meu receio é que um dia esteja calmamente em casa a apreciar uma cervejola fresquinha e receba uma carta do tribunal do trabalho a obrigar-me a ir ao hospital mais próximo já que o meu fígado exprimiu o desejo de ser transplantado para um local onde seja mais feliz. Acho que tenho de o tratar melhor. Mas só depois de Janeiro, porque as festas estão quase aí…

sábado, 24 de novembro de 2007

Um recordação feliz da minha infância...

Os dias de Verão da minha infância eram bastante mais longos que os de hoje em dia, com mais horas e mais minutos... Mas de todos, nenhum conseguir durar tanto como aquele dia que passei com os Paulos (este, o irmão com que partilho este blog e o outro, vizinho e primeiro amor de infância que ninguém podia criticar sob risco de enfrentar a minha ira). Aquele dia que passamos os três na boiça que fica do outro lado da estrada da casa dos nossos pais. Fomos para lá brincar logo após o pequeno-almoço e fomos ficando. Fizemos casas de fetos, montamos redes de baloiço, trepamos árvores... O almoço, comemos ali mesmo trazido pela mãe: arroz de frango, bem sequinho como ninguém mais sabe fazer, naquele tachinho pequeno que serve para fazer arroz para acompanhar outros pratos. E dormimos sestas, fizemos buscas, trepamos mais árvores, baloiçamos um bocado a rede... Vivemos uma semana naquele único dia! Quando a mãe do Paulo (o outro, não este com quem partilho este blog) chegou do trabalho também por lá passou... E com as guloseimas que trazia todos os dias lá levou o Paulo... e com ele o baloiço... e com o baloiço o nosso dia... E que grande dia foi aquele...